sábado, 15 de setembro de 2007

leveza

[ Este post estava no fotolog antigo. Estou repassando todos os posts para cá.]



[Favela Monte Alegre, Ribeirão Preto-SP. Março 2005. ]
22/11/2005 09:55
Qual o peso da leveza?

”Cada vez que o reino humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos...” (Ítalo Calvino, “Seis propostas para o próximo milênio”)

estátua

[ Este post estava no fotolog antigo. Estou repassando todos os posts para cá.]
[Centro de Vitória-ES. Dez 2005. Foto: Gaia]
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01/06/2006 14:37

"tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda eu sei... Pra você correr macio"

Observava a cidade sempre do mesmo lugar. Sempre estática. Mal sabiam que dalí estivera a algum tempo atrás, mais perto de tudo que qualquer outro. Países passavam na sua frente. Diversas cores, diversos idiomas, diversas histórias. Podia dali ter acesso a isso tudo. Daquele lugar enxergava o mundo! Uma cidade que ia e vinha... flutuando. Hoje ainda guarda algumas histórias. Ainda hoje os navios continuam a ir e vir.... Mas sabe que hoje o mar é muito grande... e muito longe. Hoje, sabe que a velocidade da luz aproxima o mundo... e o mar, embora líquido, embora flúido, é assim mesmo muito grande. O tempo dele é outro... É o tempo dos deuses, das sereias, dos mosntros marinhos... Não esse tempo do "agora", do instantaneo, do "tempo real". Tempo real... não seria todo tempo real?? Dali, estática, parada, ainda hoje continua a ver as pessoas que passam, que param, que vão, e algumas até voltam. Continua a ver os carros, os ônibus, a hora que tudo isso para e a rua fica tão estática quanto ela, ainda que o tempo continue a correr, pois ele não depende mais de nada... Dali, daquele lugar, estática, parada, ela sobrevive... Pois seu tempo é outro... É o tempo de quem tem tempo...

serra do navio

Vou postar uma série de fotos e textos que estavam no fotolog antigo para concentrar todos nesse aqui. Essa é a primeira.
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[Ferovia que une Porto Grande a Serra do Navio. Amapá. Fev 2006. Foto: Gaia]
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"pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela... eu vejo tudo enquadrado...".




22/06/2006 21:38



O trem parte. Começa a viagem. A paisagem passa rapidamente pela janela e não muda muito. A ferrovia parece cortar delicadamente a floresta. Parece pedir licença para passar... Parece fazer reverência. Mas estranhamente, ela, a floresta, não deixa que passem insensevelmente por ela. Ela exige atençao. Exige que se perceba que ao contrário da delicadeza de hoje, a algum tempo atrás, o trabalo de construir a ferrovia exigiu muita força e sacrifício. Tanto dos homens quanto dela, da floresta. Sensação estranha. Um misto de admiração com pesar. Como um canto lindo e triste... O ar se mostra ainda mais pesado do que de costume. Na velocidade do trem o tempo vai passando pela janela... Mas o tempo que passa por ela não é o de agora. O tempo que passa na janela do trem trás lembranças de longe... Não sei se isso é mérito do trem ou da floresta, mas a mãe, com uma foto na mão, sorri e mostra a imagem da da filha que foi para São Paulo e nunca mais voltou... A velha senhora, uma índia com os cabelos longos e grisalhos amarrados em um coque, lembra do tempo em que a cidade era próspera e que hoje estagnou. Mas não são só as lembranças do passado que a janela do trem trás de volta. Ela trás também as lembranças do que ainda não veio... Trás o desejo do marido de que as coisas vão melhorar e de que a cidade vai voltar a crescer. Trás até o desejo do rapaz de que a rodovia fique pronta para quee o trem passe a ser apenas mais uma alternativa. Quando o trem para o tempo do passado e o tempo do futuro também param e retorna o tempo do presente. Um tempo com uma cara estranha. Com a cara de uma estação improvisada. Com a cara de um barraco de madeira no meio do nada. Nada? Não... Isso seria uma ofensa! A estação está no meio dela. No meio da floresta. E como se fossem seres mágicos eles começam a descer e saem do trem com uma agilidade mágica, carregando em uma mão um filho, no colo o outro, nas costas a bagagem, e somem. Somem no meio da floresta. Simplesmente somem. O trem parte e depois de alguns instantes desse tempo sem tempo de futuro e de passado que tornam a passar pela moldura da janela ele volta e o trem para. Retorna o presente. Outra estação. Quase igual. E novamente, reapidamente, agilmente, esses seres da floresta somem. Para onde vão? Para casa. Uma casa lá longe... Onde a vida é tão outra e tão distante que eles simplesmente partem. E fica a sensação de que eles nunca nem existiram... Fica a sensação de que todo esse mundo surreal que se esconde no meio da floresta é feito de nuvem... Como aquelas lembranças distantes da infância, que depois de tanto tempo são impossíveis de se ter certeza se foram reais ou não. Como a própria janela do trem, que em meio a tantas lembranças e tantos desejos torna o próprio ar da floresta do presente mais leve... Ainda que seu peso continue o mesmo...



domingo, 2 de setembro de 2007

horizonte distante

[Por-do-sol de domingo. Porto da Barra. Salvador-BA. Set 2007. Foto: Gaia]
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Por onde vou guiar
O olhar que não exerga mais
Dá-me luz, ó deus do tempo
Nesse momento menor
Pr'eu saber seu redor
A gente quer ver
Horizonte distante
A gente quer ver
Horizonte distante
Aprumar
[...]
[ Los Hermanos - Horizonte Distante Marcelo Camelo ]
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Porque hoje o por do sol recebeu as palmas da praia toda!
Belo fim de domingo, belo início de semana.
Energia de sobra para alcançar todos os horizontes distantes.
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[Ontem o por do sol também estava lindo e de tão bonito eu fiz um vídeo que pode ser visto clicando neste link aqui . Tentei postar o vídeo mas a página está expirando... Acho que vale a pena se desterritorializar e reterritorializar virtualmente por mais ou menos dois minutos e experimentar o por do sol aqui de salvador! rs!]

dom quixote

[mini-plantação de cataventos! Casa. Salvador-BA. Set 2007. Foto: Gaia]
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- Os moinhos de vento, Umayma - explica Dom Quixote a sua amada - são para mim, um símbolo permanente. Representam as diferentes etapas da luta que abraçamos neste mundo. Quando estão parados, acabam nossos problemas mas, se se movem, que Deus nos acuda!
- Não te compreendo completamente. É de supor que quando os moinhos param, pára também sua produção de farinha e que quando se movem, temos farinha...
- É certo que não compreendeste. Falo de moinhos de vento e tu, de moinhos.
[ Dom Quixote de la Mancha. Autor: Miguel de Cervantes]
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Porque eu estou plantando cataventos na minha janela.
Ainda são três, mas em breve será um lindo jardim!
Mini-moinhos de vento.
Mini lembranças das lutas quixoteanas.
Viva Cervantes!